30 de out. de 2008

VARIAÇÕES SOBRE UM MESMO TEMA

O pão. Após cumprir sua função primordial como item fundamental de café-da-manhã, lanche ou acompanhamento para refeições o pão, em suas mais diversas variedades, mantém longa e profícua utilidade na Gastronomia.

Murcho, o pão pode ser aproveitado para o café-da-manhã seguinte ao ser simplesmente tostado na frigideira ou na chapa depois de devidamente besuntado com manteiga, margarina, maionese, azeite ou reles óleo (para os mais corajosos). Também é metamorfoseado em charmosas french toats, que são fatias de pão mergulhadas em ovos batidos e creme de leite e fritas na manteiga até ficarem douradas de ambos os lados, um prato de desjejum perfeito acompanhado de geléia ou mel e que é parente das rabanadas brasileira e portuguesa, essas mais freqüentes na época de Natal e polvilhadas com açúcar e canela.

Duro – ou mesmo ainda murcho -, o pão transforma-se depois de torrado e pulverizado em farinha de rosca, muito empregada para gratinados e para empanar milanesas de bifes, coxinhas, peixes, etc.. Cubos de pão molhados no leite e fritos no óleo são conhecidos como migas na Espanha, servidas na refeição matinal ou como acompanhamento de pratos, assim como acontece com o mais popular croûton francês, este assado no forno até ficar crocante e ideal para guarnecer saladas, sopas e purês.

Pão duro vira deliciosas torradas que podem ficar ainda melhor se polvilhadas com sal e orégano e regadas com azeite antes de ir ao forno. A farinha de rosca abrevia o processo de elaboração do pudim de pão, antiga sobremesa que pode ser enriquecida com especiarias, passas e outras frutas secas e cristalizadas, um pouco de vinho do Porto ou Madeira, além de calda de caramelo previamente passada na fôrma onde será assada em banho-maria.

Pedaços de pão amanhecido embebidos em mistura de água, azeite e vinagre são ingredientes da panzanella, salada italiana que leva cebolas, tomates, manjericão e, em algumas versões, anchovas, abacate e pimentões. Já pão frito é incorporado ao refogado da caldereta de carneiro, ensopado tradicional espanhol feito com pedaços de carneiro refogados em azeite, pimentão, cebola, tomate, alho, pimenta, vinho branco e caldo de carne.

E, finalmente, na Idade Média, pão moído era usado para dar textura ao molho cameline, elaborado com canela, gengibre, cravo-da-índia, cardomomo, mace (especiaria feita da pele que cobre o núcleo da noz moscada!), pimenta-do-reino e vinagre. Muito bom para peixes e assados.

RECEITAS

Molho cameline

Ingredientes:

1/2 xíc. (chá) de vinagre de vinho;

5 fatias de pão sem a casca;

1 e 1/2 col. (chá) de canela em pó;

1 col. (chá) de gengibre ralado;

sementes de 2 cabeças de cardamomo amassadas;

1/2 col. (chá) de cravos-da-índia;

1/2 col. (chá) de macis moído;

1/2 colher de pimenta preta;

1/2 xíc. (chá) de vinho branco.


Modo de preparar:

Misture bem todos os ingredientes e sirva com o peixe de sua preferência cozido ou grelhado. Rende porção para 4 pratos.

Salada Panzanella

Ingredientes:

1 cebola média em fatias;

8 fatias de pão italiano amanhecido;

4 tomates grandes em cubos;

¼ xic. (chá) de azeite;

2 colheres (sopa) de vinagre;

½ xic. (chá) de manjericão;

sal e pimenta-do-reino moída Q.B..


Modo de preparar:

Deixe a cebola de molho em água gelada. Enquanto isso coloque numa tigela as 8 fatias de pão italiano amanhecido e cubra com água fria. Após 10 minutos escorra, esprema e rasgue o pão com as mãos. Misture, numa saladeira, o pão, a cebola escorrida e seca e os tomates. Tempere com o azeite, vinagre, manjericão, sal e pimenta-do-reino.

VOCÊ SABIA?

Há 8 mil anos, na região entre o atual Irã, Vale do Nilo, Iraque e Síria, o homem já preparava pães. Eles eram feitos com trigo ou centeio grosseiramente moídos e misturados com água. Placas da massa secavam em pedras aquecidas na fogueira. Esse pão não levedado, ou ázimo, é consumido até hoje em cerimônias religiosas. É que, conta-se, quando Moisés e seu povo fugiram do Egito, levaram, na pressa, pães ainda não fermentados, seu único alimento na travessia do deserto. O pão de hoje, crescido e fofo, já era, então, conhecido. Acompanha a civilização há 6 mil anos. Provavelmente, a descoberta do fermento se deu por acaso, quando se observou que, deixada ao tempo, a massa produzia bolhas, exalava odor acre e resultava num pão mais leve. Há 4. 500 anos os egípcios notaram que em vez de esperar a fermentação podiam juntar à massa um pouco de outra, já fermentada, apressando, desse modo, o processo. O método é usado até hoje.

22 de out. de 2008

COMIDAS DE FADAS

Ovos-dos-mil-anos, sopa de ninhos de saliva de andorinha, glândula timo, ovas de peixe-voador, trufa, barbatana de tubarão..., os seres humanos – seja por tradição, hedonismo ou mera gula mesmo – são dados a comer uma série de coisas que por sua natureza ou características mais parecem comidas de fadas e pratos de sonhos do que alimentos propriamente ditos.
Na Antiguidade, por exemplo, os romanos eram pródigos em comer absolutamente quase tudo que andava, voava ou nadava. Assim, em seus famosos e pantagruélicos banquetes era muito difícil faltar iguarias como línguas de beija-flor, de rouxinol e de flamingo; pavão assado; crista-de-galo cozida no mel; carne da corcova de dromedário, entre outras comidas exóticas e extravagantes que inebriavam além do paladar quase todos os demais sentidos dos comensais.
Na cozinha japonesa contemporânea há muita dessas “comidas de fadas”: sashimi de abalone e de água-viva, uma infinidade de preparos com algas fresquinhas e coloridas; peixinhos secos minúsculos, filhotes de polvo e de lula. Até peixes venenosos eles se aventuram a degustar, como o perigoso baiacu, que já matou - numa inversão irônica daquele ditado que diz que o peixe morre pela boca - inúmeros gourmads, vítimas do sushiman incauto no preparo.
Ostras eu também considero oníricas. Por causa do charme de suas conchas, da agüinha com gosto de mar, da carne em si e até da possibilidade de encontrar uma pérola (verdade!). Ostra, aliás, me remete imediatamente ao trecho de “A Morsa e o Carpinteiro”, de Alice no outro lado do espelho, livro de Lewis Carroll, quando a esperta Morsa ludibria com uma longa história alguns bebês ostras apenas para devorá-los, ao final, temperados com sal, pimenta e vinagre (prefiro limão).
Certos vegetais, pelo nome ou tipo, também me encantam, como o mirtilo, folhas de trevo, sementes de romã e de papoula, flores de abóbora, cardo (a alcachofra é uma espécie de cardo). E ainda sobre os romanos, sabiam que eles alimentavam porcos com figos e nozes para perfumar a carne? Não parece coisa de fantasia isso? E para frangos e gansos eles davam anis e outras especiarias, com igual intuito.
Nós aqui no Brasil, em geral, não somos muito afeitos a surrealismos gastronômicos. Muita gente, aliás, torce o nariz para ingredientes e comidas raras, bem mais prediletas dos paladares ditos “refinados”. Quando muito, arriscam-se numa festa chique ou num jantar de cruzeiro a experimentar um bocadinho de caviar, um vol-au-vent de scargot... . E isso só prá matar a curiosidade, pronto.

* RECEITA

Ostras Gratinadas

Ingredientes: 24 unidades de ostra; 1 cebola média moída; 2 cabeças pequenas de alho picadas; 1/2 xícaras (chá) de cheiro-verde; 200 ml de vinho branco; 1 xícara (chá) de creme de leite; quanto baste de sal ; quanto baste de pimenta-do-reino branca; quanto baste de parmesão. Modo de preparar: Coloque as ostras em uma panela com 1 copo de água. Deixe a água ferver, cozinhando as ostras ao bafo. Assim que notar uma pequena abertura nas cascas, tire as ostras. Com ajuda de uma pequena faca, abra as cascas e reserve apenas o lado onde está presa a ostra. Para o molho, refogue a cebola e alho juntando o vinho, sal e pimenta. Quando estiverem dourados adicione o tempero verde e o creme de leite, cozinhe mais um pouco até levantar fervura. Cubra cada ostra com um pouco de molho, polvilhando o queijo parmesão. Arrume as ostras em uma forma e leve ao forno alto. Assim que o queijo gratinar, retire e sirva.

15 de out. de 2008

Comidinhas da festa de aniversário de Gisa Costa, Birigui, 11/10/08