4 de nov. de 2008

A FESTA DA MELANCIA




A “festa da melancia” – como popularmente denominam a grande oferta da fruta durante o período de Finados – oficialmente já passou, mas a fruta continua à venda em larga escala neste período do ano. Engraçado como as pessoas passaram a associar a melancia com o Dia de Finados, coisas tão díspares, uma fruta e a celebração à memória dos mortos. Porém raciocinando coerentemente, tudo é uma questão de ocasião pois o tempo de produção da fruta (tem safra o ano inteiro, mas novembro e dezembro é sua a melhor época) justamente coincide com o de Finados e os fruticultores então aproveitam a enorme presença e a grande concentração de pessoas junto aos cemitérios para disponibilizar a melancia ao consumo, seja inteira, seja em suculentas e refrescantes fatias. Aliás, um belo pedaço de melancia cai mesmo muito bem no calor que caracteriza esses últimos meses do ano. Logo, a conjunção de fatores safra, mais muita gente mais calor propicia, então, essa festa da melancia.

Muita gente despreza a melancia, taxando-a de fruta vulgar, brega, cafona; outros, porém, apreciam-na sobremaneira, destacando sua leveza e saudável grande teor de água. Em plena São Paulo metropolitana é comum encontrar, por incrível que pareça, muitos vendedores de frutas oferecendo largas fatias de melancia aos transeuntes. Ela também é onipresente no café-da-manhã de muitos hotéis chics, embora eu particularmente ache meio indigesto começar o dia comendo melancia, ovos mexidos e uma xícara de café fumegante.

Melancia é, mesmo, uma fruta difícil. Ao contrário de outras, seus usos são limitados na Gastronomia. In natura ou na forma de suco tudo bem; mas não funciona honestamente em outros usos culinários, embora há quem arrisque. Como doce ou geléia, corre o risco de se dissolver por ser 90% água; fica extremamente linda numa salada de folhas verdes com nozes e gorgonzola, porém em termos de sabor deixa realmente a desejar. Melhor degustá-la em fatias, assoprando ludicamente as (inúmeras) sementes; cortada artisticamente em quadrados ou triângulos, em bolinhas, numa colorida salada-de-frutas; batida com hortelã e gelo..., enfim não inventar muita moda, restringir-se às suas características refrescantes e decorativas.

Falando nisso, melancia é extremamente decorativa e tem gente que é especialista em esculpi-las a partir da casca para decorar mesas de buffets, explorando as nuances de verde, o branco da pré-polpa e o vermelho propriamente dito. E nem só tons rubi ou escarlate fazem uma melancia: embora pouca gente tenha visto ao vivo e, menos ainda, comido, existem surpreendentes melancias com a polpa amarela e até laranja! Elas inclusive começam a ser produzidas em larga escala no Brasil, a partir da Embrapa Rondônia, mas a distribuição por enquanto ainda é limitada. Uma versão sem as famosas sementes marrons já é mais facilmente encontrada, lógico que em preço diferenciado da tradicional.

E o que dizer da melancia quadrada? Cansados dos “comuns” formatos redondos e alongados, não é que os japoneses desenvolveram a melancia quadrada? Há pouco mais de 20 anos um agricultor da ilha de Shikoku teve a idéia de dar formas mais retas à fruta para que ela pudesse ser guardada facilmente na geladeira e cortada pelo consumidor. Para chegar ao formato quadrado coloca-se a melancia, assim que nasce, em fôrmas de plástico resistente e alumínio. Por falta de espaço para crescer, ocupa a área delimitada e adquire o formato dos moldes. Dado o trabalhão que dá alterar o design da fruta, essas extravagantes melancias quadradas custam uma fortuna, claro.


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