8 de jun. de 2008

COM FURO NO MEIO


Farfalle, penne, parafuso, tagliatelle, orelhinha, rigatoni..., são muitos os tipos de macarrão à disposição das donas-de-casa, dos chefs e dos glutões de plantão à espera de um belo prato de “pasta”. Versáteis e substanciosas as massas secas ou frescas prestam-se à elaboração de diversos preparos, acompanhadas de molhos simples ou mais sofisticados: tanto pode ser um prosaico alho-e-óleo, uma frugal manteiga e sálvia quanto uma exótica combinação de tinta de lula com caviar vermelho. Pelo menos visualmente é deslumbrante.
O macarrão já foi um prato quase que sagrado aos domingos, servido preferencialmente com frango ao molho ou assadinho com farofa. Hoje não é mais tão tradicional e onipresente nas mesas familiares dominicais, devido a tanta diversidade alimentar disponível a todos os bolsos e gostos e o costume cada vez mais adotado de comer nos restaurantes self-service, onde é possível num mesmo prato misturar - gastronomicamente de forma duvidosa, diga-se de passagem - sushi com feijoada, yakissoba com dobradinha, strogonoff com farofa...
Mas voltando à macarronada domingueira, minha avó embora nada tivesse de “mamma” italiana fazia uma massa como ninguém. Simples, muito simples, porém daqueles sabores que fixam para sempre na nossa memória gustativa e sentimental. O macarrão utilizado era sempre espaguete, que anterior à onipresença da embalagem plástica vinha acondicionado num pacote longo feito de papelão azul-marinho ou verde. A espessura do fio da massa era escolhida pelo número no pacote, nº 4 ou nº 5 com um furinho no meio para que depois de cozido o espaguete incorporasse com mais eficiência e vigor o molho em que seria imerso.
Como o fio do macarrão era muito longo, minha avó costumava quebrava no meio e às vezes até mais uma vez antes de colocar pra cozinhar em água quente com um fio de óleo e uma pitada de sal. Aliás, isso de quebrar o macarrão gera muitas controvérsias até hoje. Muita gente prefere o espaguete inteiro, pra enrolar no garfo num volume de encher a boca; outros gostam dele bem picadinho. Preferências pessoais à parte, só não vale comer espaguete cortando com faca no prato! Mesmo não sendo muito finos, os macarrões longos nº 4 ou nº 5 não podiam cozinhar demais, senão vários deles se partiam durante o processo. Se na hora de colocar na panela caía algum fio no chão ou se sobrava algum pedaço no pacote, a criança que estivesse por perto gostava de pegar e botar fogo na ponta dele como se fosse um incenso dos dias de hoje, para ouvi-lo queimar soltando um pequeno silvo.
Enquanto o macarrão cozinhava, preparava-se o molho: a massa de tomate era refogada na cebola e com alho que tinha sido socado junto com sal num pilãozinho de madeira. Em seguida água e um punhado de açúcar para corrigir a acidez. Um toque de verde – salsinha, cebolinha, manjericão... -, uma carne se fosse à bolonhesa ou sardinha em lata. Depois de cozido o espaguete era agregado ao molho e para finalizar pulverizado com uma farta porção de queijo parmesão ralado na hora de um pedaço duro de quebrar o queixo, mas que era comprado já assim mesmo e com esse propósito. O resultado era uma macarronada com uma cor linda, aspecto voluptuoso, cheiro inebriante e um gosto que ainda hoje dá água na boca só de lembrar!

0 comentários: